Vitória, 20 de janeiro de 2010.
Minha vida não será um Haiti.
Não consigo escrever nada nestes últimos dias. Parece que um imã me colocou a minhas placas e o que eu escrevo não sai do jeito que eu gostaria é como se as forças me fossem sugadas. Olho da janela e vejo o sol lá fora, um resto de verde que sobrou aqui perto que ainda me motiva a morara nesta área do bairro. A cada dia o crescimento imobiliário aqui arranca uma árvore e ficamos sem as sobras de outros tempos, onde se podia andar pelas calçadas sem sofrer a ação escaldante do sol que hoje é tão prejudicial à saúde de todos. Caminhar para mim nestas condições parece impossível, preciso das caminhadas, mas o retorno e tão desgastante que fujo para os parques onde ainda existem sombras, mesmo que o piso seja um asfalto que absorve todo o calor dos descampados. Por indicação médica preciso fazer exercícios para controlar a adrenalina já pensei em academias, mas o problema ainda continua sendo as cãibras e aí desisto da idéia de gastar o que não tenho e não freqüentar. Estou num beco sem saída, pois até a natação com a água fria me seria prejudicial. Por hoje fico por aqui orando pelo povo do Haiti que sempre sofreu e parece que o Mundo só percebeu agora quando quase tudo se perdeu e diante daquele sofrimento todo o que passo me faz vergonha, mas continua sendo real.
Como diz Caetano e Gil: “O Haiti não é aqui..” e nem será em minha vida.