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Um homem casado pela segunda e ultima vez, um filho, disposto a compartilhar experiências, ouvir sugestões, falar das coisas que acredita, do amor, trocar informações sobre as formas que arranjou de lidar com á depressão e a bipolaridade e todos os seus desdobramentos, disposto a ouvir, ser ouvido, perdoar e ser perdoado, completamente disposto em fazer novas amizades, aberto para reformas, para reestruturações de sua própria humanidade...

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Caixinha de Pássaros.




Caixinhas de Pássaros.

O corpo humano em seus segredos faz a gente sentir dores das mais variadas nem sempre um comprimido para dor resolve o problema e apelamos para uma seção de massagem. Alguns poucos privilegiados podem correr aos especialistas, mas muitos de nós acabam apelando a quem esta mais perto e o privilégio que era de poucos passa a ser maior em nos quando quem dá a massagem são às mãos de quem nos ama.

Já á alguns dias vinha sentido uma dor lombar constante que não me deixava quieto, o mau jeito para sentar, ainda mais eu que vivo a maioria das vezes enfrente ao computador, continuou e eu tive que pedir socorro a minha esposa Luciana que meio cansada, mas com a mesma boa vontade de sempre me presenteou com uma massagem. O alivio foi tamanho que acabei cochilando forte.

Percebia o movimento da casa em volta de mim, mas não acordava. Cada vez mais me aprofundava no relaxamento e assim lá estava eu sonhando.

Os primeiro devaneios me levaram a infância vi lugares e pessoas de quando tinha aí uns poucos seis ou sete anos ou talvez oito, não tenho certeza. As situações eram comuns, brincadeiras, idas à casa de tios, pescarias, passeios de carro por estradas de terra, viagens de férias a praia em Guarapari e em Carapebus, onde freqüentava quando tinha uma dessas idades, até as “namoradinhas” de verão eu vi.

Continuei as imagens eram agradáveis a um homem mal realizado e insatisfeito de quarenta anos como ainda sou. Nos sonhos eu encontrava com os estranhos que conheci naquela época, os vendedores de ostras que passavam com seus balaios, os pescadores das puxadas dos arrastões, os garotos que vendiam picolé, as vendedoras de cocada, como eram açucaradas, eu mesmo vendendo algodão doce co meu primo. Impressionante falava com eles as mesmas coisas que havia falado naquela época, minha sensação era exatamente esta.

Por fim já quase acordando do relaxamento da massagem e do sono que ele me trouxe, me vi em um gramado enorme, verdinho onde estávamos eu e meus cinco irmãos já adultos em circulo, tendo ao centro meu pai e minha mãe. Papai segurava uma gaiola de madeira bem rústica com seis pequenas gaiolinhas em cada uma, um canarinho desses mestiços.

Vagarosamente ele entregava a cada filho um dos pássaros e dizia: “Quando eu não mais estiver aqui solte o bichinho para ele voar alto e levar consigo parte de mim e parte de vocês.” Minha mãe olhava tudo com um sorriso suave que eu nunca tinha visto antes.

E meu pai continuou dizendo: “Quando este dia chegar cada um de vocês estará livre para outros vôos iguais aos pássaros que estou lhes dando agora. Medo? Sei que todos vocês terão uns menos outros mais, porem é assim que deve ser. No fim vocês perceberam que estaremos sempre juntos voando cada um o seu próprio vôo, mas continuaremos sendo um bando de pássaros cada vez que nós nos lembrarmos dos bons momentos que passamos juntos, das cachoeiras, das pescarias, das viagens, dos dias de rebeldia e dos dias de lições, algumas eu creio ter deixado a vocês outras prefiro que vejam, descubram com o tempo, amigo da razão e da verdade.

Eu e sua mãe sempre amaremos cada um de vocês nas proporções que a vida se encarregou de balancear e nós de demonstrar. “Cuidem de seus pássaros e voem na altura que eles sejam capazes de alcançar, não passem além delas, pois suas asas serão sempre como as de Ícaro, feitas de cera para que não se machuquem voando muito alto.”