Quem sou eu

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Um homem casado pela segunda e ultima vez, um filho, disposto a compartilhar experiências, ouvir sugestões, falar das coisas que acredita, do amor, trocar informações sobre as formas que arranjou de lidar com á depressão e a bipolaridade e todos os seus desdobramentos, disposto a ouvir, ser ouvido, perdoar e ser perdoado, completamente disposto em fazer novas amizades, aberto para reformas, para reestruturações de sua própria humanidade...

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Nasci, e agora? Vou viver então.


Se cada um de nos tivesse noção de como é o momento em que nossas digníssimas mães, começam a sentir nosso pezinho chutando a barriga dela pedindo para sair, na hora teríamos compaixão da coitada e voltaríamos atrás. A dor e tremendamente desagradável, coisa que só mulher é capaz de agüentar. Como não tem jeito, não tem como voltar a trás e o médico ou parteira, apertam o abdômen dela com uma força descomunal, puxando em seguida nossas cabeças para fora, isso quando não passam à faca na mamãzinha e nos expulsam de lá. O jeito é sair e ver o que nos espera fora do aconchego do ventre materno.


Nos primeiro meses de vida a gente sente que o mundo é nosso ou pelo menos todas as atenções. Um bocejo, um arroto, uma caquinha, tudo é lindo e a recompensa são deliciosas e longas mamadas, banhos intermináveis, carinhos, afagos, roupinhas quentinhas, uma gostosura. As primeiras palavras sejam lá o que elas possam significar, são como musica para os ouvidos de nossos pais. A titia chega a escutar a gente falando o nome dela “D-E-O-C-R-E-C-I-A-N-A”, uma coisa incrível, já mostramos um bom gosto apurado logo de cara, falamos o nome mais bonito da família, para comprovar nossa genialidade desde sedo.


A cada mês nossos rostinhos tomam novas formas e parecemos primeiro o tio-avó-da-avô, no outro somos a cara do primo, daqui a pouco estamos cuspidos e escarrados, que nojo, á cara do tio Eustáquio e por fim da mãe misturado com o pai, para ser mais exato do nariz para cima é a mãe, mas a boca é do pai sem dúvida. Pois aí vêm os primeiros passos, somos como representantes da equipe de ginástica olímpica, o verdadeiro equilíbrio em forma de pingo de gente capazes das mais incríveis peripécias tal qual um ginasta. Os pais de braços abertos nos incentivam a fazer todo tipo de macaquices, desce do sofá, sobe no sofá, senta agora levanta, pega bola, joga bola, quebramos o jarro de cristal lindo que a vovó deu para a mamãe, mas não tem problema, foi sem querer.



Quando finalmente aprendemos todas as lições e começamos a escalar os moveis da sala e de nossos quartos lá vem papai com o chinelão na mão e tasca no bumbum cheio de talquinho. Pronto aí começa: Não pode subir aí! Não pode descer daí! Não pode pegar isso! Não tira isso do lugar! Não pode riscar a parede! Não! Não! Não! A gente não entende porque depois de tantas lições divertidas, não podemos mais praticar aqueles esportes radicais que antes faziam todos felizes com nossas aventuras.

Com três anos me aproveitei de um momento de dispersão de minha mãe, que na época já tinha quatro filhos pré-adolescentes para cuidar, subi em uma cadeira e peguei á faca de cortar pães. Sem muita habilidade em seu manuseio, segurei do lado errado do objeto brilhante que somente os adultos e um ou outro dos meus irmãos tinha autorização para usar.


Não deu muito certo, meus dedinhos gordos não tinham a mesma força de sua aparência robusta e lá se foi à faca escorregadia por entre o fura-bolo e o pai-de-todos, cortante e sorrateira quase me dividindo a palpa da mão esquerda ao meio. Um filete de sangue e o susto mais que a própria dor me fez dar um grito e desesperada quase desmaiando minha mãe enrolou minha mão com um pano de prato branco.

Meu espanto hoje em dia ao olhar para á palma da minha mão é ver que a coisa não foi tão grave assim, pois nenhuma marca se quer encontro, ou talvez uma das linhas desenhadas, tenha tomado um novo contorno e eu nem me lembro de ter tomado pontos, mas do sangue eu me lembro dando uma nova cor ao pano. Nesta mesma fase e com marcas que trago colado no braço, foi o caso do ferro de passar roupas que eu quis segurar com a mão direita e não conseguindo, tratei de tentar apóia-lo com o braço esquerdo essa até hoje eu tenho a sensação na memória, parecia derreter minha pele, quente muito quente, fez dois quadrados quase perfeitos que me acompanham a vida toda.

Durante algum tempo de minha vida eu exibia a todos como um troféu por minhas habilidades em fazer coisas inusitadas, mas hoje elas parecem um prêmio por minha teimosia em aprender com os meus constantes erros. Quando olho as duas marcas, uma meio apagada pelo tempo, vejo como eu já estava pré-destinado em passar perto de meus objetivos de vida e nunca alcança-los de verdade.


Sempre mirando na coisa errada achando que tinha feito à escolha certa insistindo e tentando apenas corrigir o curso sem mudar meus conceitos. É verdade que toda criança quer e deve descobrir coisas novas, isso trás ganhos de aprendizado, cria novas habilidades e desenvolve a inteligência. Meu objetivo com á faca e o ferro de passar era saber se eu conseguiria fazer o que os adultos faziam até aí tudo bem, mas o que realmente aconteceu foi que eu não absorvi nada destes dois momentos continuei pela infância, adolescência e idade adulta á fora caído em ciladas que eu mesmo nem percebia como eu tinha chegado lá.

O mais incrível é que até hoje eu continuo lento para absorver as tais lições da vida. Como diria a musica elas vêm como ondas num ir e vir infinito e eu monto em suas crinas, tomando um caldo logo em seguida. Quando consigo suspirar, me levanto e sigo em busca de um novo recomeço, quando atordoado fico rodando igual pião de madeira sem rumo, ou como aqueles ratinhos de laboratório lesos de tanto tomarem choque.


Aprender não é fácil é quase uma pratica atlética, pura malhação de lóbulos. Um estimulo bom gera uma memória boa, um ruim é pronto, paira a dúvida o que fiz de errado? Nada. Não fazemos nada errado o ponto de vista é que determina o julgamento, a moral, a falta dela, a ordem pública, as regras, os padrões, os costumes, as convenções, as tradições, os gêneros, as raças, as ideologias, as teologias, os direitos, os humanos, os animais, os que agem pior do que os animas ou fazem até o que os animais não fazem, as doutrinas, os anacronismos, os absurdos, os inseguros, os covardes, os juízes honrados que se calam ante as decisões dos colegas sem honra, os corruptos que medem com lastro longo o quando vale seus préstimos, os falsos profetas desencaminhando as ovelhas sem rumo, os padres que denunciavam os comunista e que hoje comem criançinhas.



O mundo que definitivamente não pertence a Deus, apesar de ser obra dele mesmo, não respeita mais medida, parâmetro ou escala, seu referencial muda de lugar conforme a bússola louca dos interesses corporativos e institucionais. Parece pau, pedra ou o fim do caminho? Nada disso. São somente as águas do outono de Deus sinalizando o fim do verão do homem.



O Início, assim mesmo com “I” maiúsculo, de um tempo novo, o tempo de olhar para dentro e se lembrar das nossas infâncias, da nossa inocência, de quando éramos bons, de quando acreditávamos que poderíamos mudar o mundo, de resgatar os sentimentos bons, após gritarmos para fora do peito os ferimentos internos, tempo de fechar os olhos e a boca e abrir os braços e receber no meio do peito uma força nova que só pode vir dos céus.