Mais uma doença para vida toda e como a Bipolaridade tenho que tomar medicamentos para o resto da VIDA!
Epidemiologia do
DIABETES MEllitus
1. a MaGnitudE do
ProBLEMa
Uma epidemia de diabetes mellitus (DM)
está em curso. Em 1985 estimava-se que existissem 30 milhões de adultos com DM no mundo; esse número cresceu para 135 milhões em
1995, atingindo 173 milhões em 2002, com
projeção de chegar a 300 milhões no ano
2030. Cerca de dois terços desses indivíduos
com DM vivem nos países em desenvolvimento, onde a epidemia tem maior intensidade,
com crescente proporção de pessoas afetadas
em grupos etários mais jovens
(1)
(B, 3).
O número de indivíduos diabéticos está
aumentando devido ao crescimento e ao envelhecimento populacional, à maior urbanização, à crescente prevalência de obesidade
e sedentarismo, bem como à maior sobrevida
do paciente com DM. Quantificar a prevalência
de DM e o número de pessoas diabéticas, no
presente e no futuro, é importante para permitir uma forma racional de planejamento e
alocação de recursos.
No Brasil, no final dos anos 1980, a prevalência de DM na população adulta foi estimada em 7,6%(2)
; dados mais recentes apontam
para taxas mais elevadas, como 12,1% no
estudo de Ribeirão Preto, SP
(3)
. Estima-se que
em 2005 existam em torno de 8 milhões de
indivíduos com DM no Brasil (B, 3).
A influência da idade na prevalência de
DM e na tolerância à glicose diminuída foi
bem evidenciada pelo Estudo Multicêntrico
sobre a Prevalência do Diabetes no Brasil
(2)
, no
qual se observou variação de 2,7% para a faixa
etária de 30-59 anos e de 17,4% para a de 60-
69 anos, ou seja, um aumento de 6,4 vezes.
Existem marcantes diferenças na prevalência do DM entre diversos países e grupos
étnicos. As taxas mais elevadas foram descritas
para Nauru, na Oceania, e para os índios Pima,
no Arizona, EUA, onde praticamente metade
da população adulta apresenta DM.
Outros aspectos a serem destacado são as
repercussões de mudanças no estilo de vida,
em curto período de tempo, em grupos de
migrantes. No Brasil, estudo realizado na comunidade nipo-brasileira mostrou aumento
vertiginoso na prevalência do DM, cuja taxa
passou de 18,3% em 1993 para 34,9% em
2000, evidenciando o impacto de alterações
no estilo de vida, em particular do padrão alimentar, interagindo com uma provável suscetibilidade genética
(4)
(B, 3).
A incidência do DM tipo 2 (DM2) é difícil
de ser determinada em grandes populações,
pois envolve seguimento durante alguns
anos, com medições periódicas de glicemia.
Os estudos de incidência são geralmente restritos ao DM tipo 1 (DM1), pois suas manifesta-
ções iniciais tendem a ser bem características.
A incidência do DM1 demonstra acentuada
variação geográfica, apresentando taxas por
100 mil indivíduos com menos de 15 anos de
idade: de 38,4 na Finlândia, de 7,6 no Brasil e
de 0,5 na Coréia, por exemplo. Atualmente
sabe-se que a incidência do DM1 vem aumentando, particularmente na população infantil
com menos de 5 anos de idade
(5)
.
No mundo, o número de mortes atribuídas
ao DM está em torno de 800 mil; entretanto é
fato bem estabelecido que essa quantidade de
óbitos é consideravelmente subestimada. Freqüentemente o DM não é mencionado na declaração de óbito pelo fato de serem suas complicações, particularmente as cardiovasculares
e cerebrovasculares, as causas da morte. E são
essas causas que figuram nas estatísticas de
mortalidade. Uma figura mais realista sugere
cerca de 4 milhões de óbitos anuais relacionados à presença dessa doença, com importante Diretrizes sbD 2006
2006 Diretrizes sbD
suas famílias, e são difíceis de serem quantificados.
Os custos diretos com DM variam entre
2,5% e 15% do orçamento anual da saúde,
dependendo de sua prevalência e do grau de
sofisticação do tratamento disponível. Estimativas do custo direto para o Brasil estão em
torno de 3,9 bilhões de dólares americanos,
em comparação com 0,8 bilhão para a Argentina e 2 bilhões para o México
(8)
.
Inúmeros indivíduos diabéticos são incapazes de continuar a trabalhar em decorrência
das complicações crônicas, ou ficam com alguma limitação no seu desempenho profissional.
Estimar o custo social dessa perda de produtividade não é fácil. Entretanto, em algumas
situações nas quais essa estimativa tem sido
feita, esses custos são equivalentes ou mesmo
superiores aos diretos com a saúde. Por exemplo, em 1997, as estimativas para os EUA dos
custos diretos para o tratamento do DM foram
de US$ 44 bilhões em comparação com US$ 54
bilhões para os custos indiretos. Combinando
as estimativas para 25 países latino-americanos, pode-se inferir que os custos decorrentes
da perda de produção pela presença do DM
podem ser cinco vezes maiores do que os diretos
(8)
. Isso se deveria ao acesso limitado à boa
assistência à saúde, com conseqüente elevada
incidência de complicações, incapacitações e
morte prematura (B, 4).
2. PrEVEnÇÃo
Prevenção efetiva também significa mais
atenção à saúde de forma eficaz. Isso pode ser
feito através da prevenção do início do DM
(prevenção primária) ou de suas complicações
agudas ou crônicas (prevenção secundária).
A prevenção primária protege indivíduos
suscetíveis de desenvolverem o DM. Ela tem
impacto por reduzir ou retardar tanto a necessidade de atenção à saúde como a de tratar as
complicações do DM.
Atualmente, a prevenção primária do DM1
não tem uma base racional que possa ser aplicada a toda a população. As intervenções populacionais ainda são teóricas, necessitando
de estudos que as confirmem. As proposições
mais aceitáveis baseiam-se no estímulo do
aleitamento materno e em evitar a introdu-
ção do leite de vaca nos primeiros três meses
de vida. Entretanto o recrutamento de indiví-
contribuição de complicações cardiovasculares. Isso corresponde a aproximadamente 9%
do total mundial de mortes. A maioria desses
óbitos é prematura, ocorrendo quando os indivíduos estão contribuindo economicamente
para a sociedade.
Dados brasileiros mostram que as taxas
de mortalidade por DM (por 100 mil habitantes) apresentam acentuado aumento com o
progredir da idade, variando de 0,58 para a
faixa etária de 0-29 anos até 181,1 para a de 60
anos ou mais, ou seja, um gradiente superior
a 300 vezes. Na maioria dos países desenvolvidos, quando se analisa apenas a causa básica
do óbito, verifica-se que o DM, entre as principais, figura entre a quarta e a oitava posição.
Estudos brasileiros sobre mortalidade por
DM, analisando as causas múltiplas de morte, ou seja, quando existe menção ao DM na
declaração de óbito, mostram que a taxa de
mortalidade por essa enfermidade aumenta
até 6,4 vezes
(6)
. Analisando a importância do
DM como carga de doença, ou seja, o impacto da mortalidade e dos problemas de saúde
que afetam a qualidade de vida dos seus portadores, através do Disability Adjusted Life of
Years (DALY), anos de vida perdidos ajustados
por incapacidade, verifica-se que em 1999 o
DM apresentava uma taxa de 12 por mil habitantes, ocupando a oitava posição, sendo
superado pelo grupo das doenças infecciosas
e parasitárias, neuropsiquiátricas, cardiovasculares, respiratórias crônicas, do aparelho
digestivo, neoplasias malignas e doenças
musculoesqueléticas
(7)
. Nessa comparação
deve-se levar em conta que o DM, como única
entidade, está sendo comparado com grupos
de doenças e, mesmo assim, pode ser notada
a sua importância (B, 4).
Sua natureza crônica, a gravidade de suas
complicações e os meios necessários para
controlá-las tornam o DM uma doença muito onerosa, não apenas para os indivíduos
afetados e suas famílias, mas também para o
sistema de saúde. Os custos dos cuidados de
saúde para um indivíduo com DM nos EUA foi
estimado em duas a três vezes maior do que o
de um sem a doença.
Os custos do DM afetam todos, porém
não são apenas um problema econômico.
Os custos intangíveis (dor, ansiedade, inconveniência e perda de qualidade de vida,
por exemplo) também apresentam grande
impacto na vida das pessoas com diabetes e
duos de maior risco para participar de ensaios
clínicos é justificável. As intervenções propostas têm se baseado em imunomodulação ou
imunossupressão.
Quanto ao DM2, no qual a maioria dos
indivíduos também apresenta obesidade,
hipertensão arterial e dislipidemia, e a hiperinsulinemia seria o elo de ligação entre esses
distúrbios metabólicos há necessidade de intervenções abrangendo essas múltiplas anormalidades metabólicas.
Existem evidências de que as alterações
no estilo de vida, com ênfase na alimentação
e na redução da atividade física, estão associadas ao acentuado aumento na prevalência
do DM2. Os programas de prevenção primária
do DM2 têm se baseado em intervenções na
dieta e na prática da atividade física, visando
a combater o excesso de peso. Os resultados
do Diabetes Prevention Program (DPP)
(9)
demonstraram redução de 58% na incidência de
casos de DM através do estímulo a uma dieta
saudável e à prática de atividades físicas, sendo essa intervenção mais efetiva do que o uso
de metformina. O Finnish Diabetes Prevention
Study (DPS)
(10)
mostrou que uma redução do
peso em torno de 3 a 4kg em quatro anos
reduziu a incidência do DM em 58%. Num
estudo longitudinal com 84.941 enfermeiras
e seguimento de 16 anos, o controle de fatores de risco modificáveis, como dieta habitual,
atividade física, tabagismo e excesso de peso,
foi associado a redução de 91% na incidência
de DM e de 88% nos casos com história familiar de DM(11)
(B, 1).
Quanto à prevenção secundária, existem
evidências de que o controle metabólico estrito tem papel importante na prevenção do
surgimento ou da progressão de suas complicações crônicas, conforme ficou demonstrado
pelo Diabetes Control and Complications Trial
(DCCT)
(12)
para o DM1 e pelo United Kingdom
Propective Diabetes Study (UKPDS)
(13)
para o
DM2 (B, 1).
Outras medidas importantes na preven-
ção secundária
(14)
são:
tratamento da hipertensão arterial e da dislipidemia, o que reduz substancialmente o
risco de complicações do DM (B, 1);
prevenção de ulcerações nos pés e de amputações de membros inferiores através de cuidados específicos que podem reduzir tanto a freqüência e a duração de hospitalizações como,
em 50%, a incidência de amputações (B, 2);Diretrizes sbD 2006
10
2006 Diretrizes sbD
11
rEFErÊnCias
BiBLioGráFiCas
1. Wild S, Roglic G, Green A, Sicree R, King H. Global
prevalence of diabetes. Estimates for the year
2000 and projections for 2030. Diabetes Care.
2004; 27(5): 1047-53.
2. Malerbi D, Franco LJ; the Brazilian Cooperative
Group on the Study of Diabetes Prevalence.
Multicenter Study of the Prevalence of
Diabetes Mellitus and Impaired Glucose
Tolerance in the urban Brazilian population
aged 30-69 years. Diabetes Care. 15(11):
1509-16, 1992.
3. Torquato MTCG, Montenegro Jr RN, Viana LAL,
Souza RAHG, Ianna CMM, Lucas JCB, et al.
Prevalence of diabetes mellitus and impaired
glucose tolerance in the urban population
aged 30-69 years in Ribeirão Preto (São Paulo),
Brazil. Sao Paulo Med J. 2003; 121(6): 224-30.
4. Gimeno SGA, Ferreira SRG, Cardoso MA, Franco
LJ, Iunes M; the Japanese-Brazilian Diabetes
Study Group. Weight gain in adulthood and
risk of developing glucose disturbance – a
study of a Japanese-Brazilian population. J
Epidemiol. 2000; 10(2 ): 103-10.
5. Onkamo P, Väänänen S, Karvonen M, Tuomilehto
J. Worldwide increase in incidence of type 1
diabetes: the analysis of the data on published
incidence trends. Diabetologia. 1999; 42(12):
1395-403.
6. Franco LJ. Um problema de saúde pública.
Epidemiologia. In: Oliveira JEP, Milech A,
editors. Diabetes mellitus: clínica, diagnóstico,
tratamento multidisciplinar. São Paulo: Editora
Atheneu; 2004. cap. 4, p. 19-32.
7. Schramm JMA, Oliveira AF, Leite IC, Valente
JG, Gadelha AMJ, Portela MC, Campos MR.
Transição epidemiológica e o estudo de carga
de doença no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva.
2004; 9(4): 897-908.
8. Barceló A, Aedo C, Rajpathak S, Robles S. The cost
of diabetes in Latin America and the Caribean.
Bull World Health Organ 2003; 81(1): 19-27.
9. Diabetes Prevention Program Research Group.
Reduction of the incidence of type 2 diabetes
with life style intervention or metformin. N
Engl J Med. 2002; 346(6): 393-403.
10. Tuomilehto J, Lindstrom J, Eriksson JG,
Valle TT, Hamalainen H, Hanne-Parikka P,
Keinanen-Kiukaanniemi S; for the Finnish
Diabetes Prevention Program. Prevention of
type 2 diabetes mellitus by changes in life
style among subjects with impaired glucose
tolerance. N Engl J Med. 2001; 344(18):
1343-50.
11. Hu EB, Manson JE, Stamper MJ, Colditz G, Liu
S, Solomon CG, Willett WC. Diet, lifestyle, and
the risk of type 2 diabetes mellitus in women.
N Engl J Med. 2001; 345(11): 790-7.
12. The Diabetes Control and Complications
Trial Research Group. The effect of intensive
treatment of diabetes on the development
and progression of long-term complications
in insulin-dependent diabetes mellitus. N
Engl J Med. 1993; 329(14): 977-86.
13. UK Prospective Diabetes Study (UKPDS)
Group. Intensive blood glucose control
with sulphonylureas or insulin compared
with conventional treatment and risk of
complications in patients with type 2 diabetes.
Lancet. 1998; 352(9131): 837-53.
14. World Health Organization. Diabetes: the cost
of diabetes. WHO fact sheet. September 2002.
n. 236.
15. World Health Organization. The World Health
Organization Report 2002: Reducing Risks,
Promoting Healthy Life. Geneve,WHO, 2002.
FONTE:http://www.diabetes.org.br/educacao/docs/diretrizes.pdf
Epidemiologia do
DIABETES MEllitus
1. a MaGnitudE do
ProBLEMa
Uma epidemia de diabetes mellitus (DM)
está em curso. Em 1985 estimava-se que existissem 30 milhões de adultos com DM no mundo; esse número cresceu para 135 milhões em
1995, atingindo 173 milhões em 2002, com
projeção de chegar a 300 milhões no ano
2030. Cerca de dois terços desses indivíduos
com DM vivem nos países em desenvolvimento, onde a epidemia tem maior intensidade,
com crescente proporção de pessoas afetadas
em grupos etários mais jovens
(1)
(B, 3).
O número de indivíduos diabéticos está
aumentando devido ao crescimento e ao envelhecimento populacional, à maior urbanização, à crescente prevalência de obesidade
e sedentarismo, bem como à maior sobrevida
do paciente com DM. Quantificar a prevalência
de DM e o número de pessoas diabéticas, no
presente e no futuro, é importante para permitir uma forma racional de planejamento e
alocação de recursos.
No Brasil, no final dos anos 1980, a prevalência de DM na população adulta foi estimada em 7,6%(2)
; dados mais recentes apontam
para taxas mais elevadas, como 12,1% no
estudo de Ribeirão Preto, SP
(3)
. Estima-se que
em 2005 existam em torno de 8 milhões de
indivíduos com DM no Brasil (B, 3).
A influência da idade na prevalência de
DM e na tolerância à glicose diminuída foi
bem evidenciada pelo Estudo Multicêntrico
sobre a Prevalência do Diabetes no Brasil
(2)
, no
qual se observou variação de 2,7% para a faixa
etária de 30-59 anos e de 17,4% para a de 60-
69 anos, ou seja, um aumento de 6,4 vezes.
Existem marcantes diferenças na prevalência do DM entre diversos países e grupos
étnicos. As taxas mais elevadas foram descritas
para Nauru, na Oceania, e para os índios Pima,
no Arizona, EUA, onde praticamente metade
da população adulta apresenta DM.
Outros aspectos a serem destacado são as
repercussões de mudanças no estilo de vida,
em curto período de tempo, em grupos de
migrantes. No Brasil, estudo realizado na comunidade nipo-brasileira mostrou aumento
vertiginoso na prevalência do DM, cuja taxa
passou de 18,3% em 1993 para 34,9% em
2000, evidenciando o impacto de alterações
no estilo de vida, em particular do padrão alimentar, interagindo com uma provável suscetibilidade genética
(4)
(B, 3).
A incidência do DM tipo 2 (DM2) é difícil
de ser determinada em grandes populações,
pois envolve seguimento durante alguns
anos, com medições periódicas de glicemia.
Os estudos de incidência são geralmente restritos ao DM tipo 1 (DM1), pois suas manifesta-
ções iniciais tendem a ser bem características.
A incidência do DM1 demonstra acentuada
variação geográfica, apresentando taxas por
100 mil indivíduos com menos de 15 anos de
idade: de 38,4 na Finlândia, de 7,6 no Brasil e
de 0,5 na Coréia, por exemplo. Atualmente
sabe-se que a incidência do DM1 vem aumentando, particularmente na população infantil
com menos de 5 anos de idade
(5)
.
No mundo, o número de mortes atribuídas
ao DM está em torno de 800 mil; entretanto é
fato bem estabelecido que essa quantidade de
óbitos é consideravelmente subestimada. Freqüentemente o DM não é mencionado na declaração de óbito pelo fato de serem suas complicações, particularmente as cardiovasculares
e cerebrovasculares, as causas da morte. E são
essas causas que figuram nas estatísticas de
mortalidade. Uma figura mais realista sugere
cerca de 4 milhões de óbitos anuais relacionados à presença dessa doença, com importante Diretrizes sbD 2006
2006 Diretrizes sbD
suas famílias, e são difíceis de serem quantificados.
Os custos diretos com DM variam entre
2,5% e 15% do orçamento anual da saúde,
dependendo de sua prevalência e do grau de
sofisticação do tratamento disponível. Estimativas do custo direto para o Brasil estão em
torno de 3,9 bilhões de dólares americanos,
em comparação com 0,8 bilhão para a Argentina e 2 bilhões para o México
(8)
.
Inúmeros indivíduos diabéticos são incapazes de continuar a trabalhar em decorrência
das complicações crônicas, ou ficam com alguma limitação no seu desempenho profissional.
Estimar o custo social dessa perda de produtividade não é fácil. Entretanto, em algumas
situações nas quais essa estimativa tem sido
feita, esses custos são equivalentes ou mesmo
superiores aos diretos com a saúde. Por exemplo, em 1997, as estimativas para os EUA dos
custos diretos para o tratamento do DM foram
de US$ 44 bilhões em comparação com US$ 54
bilhões para os custos indiretos. Combinando
as estimativas para 25 países latino-americanos, pode-se inferir que os custos decorrentes
da perda de produção pela presença do DM
podem ser cinco vezes maiores do que os diretos
(8)
. Isso se deveria ao acesso limitado à boa
assistência à saúde, com conseqüente elevada
incidência de complicações, incapacitações e
morte prematura (B, 4).
2. PrEVEnÇÃo
Prevenção efetiva também significa mais
atenção à saúde de forma eficaz. Isso pode ser
feito através da prevenção do início do DM
(prevenção primária) ou de suas complicações
agudas ou crônicas (prevenção secundária).
A prevenção primária protege indivíduos
suscetíveis de desenvolverem o DM. Ela tem
impacto por reduzir ou retardar tanto a necessidade de atenção à saúde como a de tratar as
complicações do DM.
Atualmente, a prevenção primária do DM1
não tem uma base racional que possa ser aplicada a toda a população. As intervenções populacionais ainda são teóricas, necessitando
de estudos que as confirmem. As proposições
mais aceitáveis baseiam-se no estímulo do
aleitamento materno e em evitar a introdu-
ção do leite de vaca nos primeiros três meses
de vida. Entretanto o recrutamento de indiví-
contribuição de complicações cardiovasculares. Isso corresponde a aproximadamente 9%
do total mundial de mortes. A maioria desses
óbitos é prematura, ocorrendo quando os indivíduos estão contribuindo economicamente
para a sociedade.
Dados brasileiros mostram que as taxas
de mortalidade por DM (por 100 mil habitantes) apresentam acentuado aumento com o
progredir da idade, variando de 0,58 para a
faixa etária de 0-29 anos até 181,1 para a de 60
anos ou mais, ou seja, um gradiente superior
a 300 vezes. Na maioria dos países desenvolvidos, quando se analisa apenas a causa básica
do óbito, verifica-se que o DM, entre as principais, figura entre a quarta e a oitava posição.
Estudos brasileiros sobre mortalidade por
DM, analisando as causas múltiplas de morte, ou seja, quando existe menção ao DM na
declaração de óbito, mostram que a taxa de
mortalidade por essa enfermidade aumenta
até 6,4 vezes
(6)
. Analisando a importância do
DM como carga de doença, ou seja, o impacto da mortalidade e dos problemas de saúde
que afetam a qualidade de vida dos seus portadores, através do Disability Adjusted Life of
Years (DALY), anos de vida perdidos ajustados
por incapacidade, verifica-se que em 1999 o
DM apresentava uma taxa de 12 por mil habitantes, ocupando a oitava posição, sendo
superado pelo grupo das doenças infecciosas
e parasitárias, neuropsiquiátricas, cardiovasculares, respiratórias crônicas, do aparelho
digestivo, neoplasias malignas e doenças
musculoesqueléticas
(7)
. Nessa comparação
deve-se levar em conta que o DM, como única
entidade, está sendo comparado com grupos
de doenças e, mesmo assim, pode ser notada
a sua importância (B, 4).
Sua natureza crônica, a gravidade de suas
complicações e os meios necessários para
controlá-las tornam o DM uma doença muito onerosa, não apenas para os indivíduos
afetados e suas famílias, mas também para o
sistema de saúde. Os custos dos cuidados de
saúde para um indivíduo com DM nos EUA foi
estimado em duas a três vezes maior do que o
de um sem a doença.
Os custos do DM afetam todos, porém
não são apenas um problema econômico.
Os custos intangíveis (dor, ansiedade, inconveniência e perda de qualidade de vida,
por exemplo) também apresentam grande
impacto na vida das pessoas com diabetes e
duos de maior risco para participar de ensaios
clínicos é justificável. As intervenções propostas têm se baseado em imunomodulação ou
imunossupressão.
Quanto ao DM2, no qual a maioria dos
indivíduos também apresenta obesidade,
hipertensão arterial e dislipidemia, e a hiperinsulinemia seria o elo de ligação entre esses
distúrbios metabólicos há necessidade de intervenções abrangendo essas múltiplas anormalidades metabólicas.
Existem evidências de que as alterações
no estilo de vida, com ênfase na alimentação
e na redução da atividade física, estão associadas ao acentuado aumento na prevalência
do DM2. Os programas de prevenção primária
do DM2 têm se baseado em intervenções na
dieta e na prática da atividade física, visando
a combater o excesso de peso. Os resultados
do Diabetes Prevention Program (DPP)
(9)
demonstraram redução de 58% na incidência de
casos de DM através do estímulo a uma dieta
saudável e à prática de atividades físicas, sendo essa intervenção mais efetiva do que o uso
de metformina. O Finnish Diabetes Prevention
Study (DPS)
(10)
mostrou que uma redução do
peso em torno de 3 a 4kg em quatro anos
reduziu a incidência do DM em 58%. Num
estudo longitudinal com 84.941 enfermeiras
e seguimento de 16 anos, o controle de fatores de risco modificáveis, como dieta habitual,
atividade física, tabagismo e excesso de peso,
foi associado a redução de 91% na incidência
de DM e de 88% nos casos com história familiar de DM(11)
(B, 1).
Quanto à prevenção secundária, existem
evidências de que o controle metabólico estrito tem papel importante na prevenção do
surgimento ou da progressão de suas complicações crônicas, conforme ficou demonstrado
pelo Diabetes Control and Complications Trial
(DCCT)
(12)
para o DM1 e pelo United Kingdom
Propective Diabetes Study (UKPDS)
(13)
para o
DM2 (B, 1).
Outras medidas importantes na preven-
ção secundária
(14)
são:
tratamento da hipertensão arterial e da dislipidemia, o que reduz substancialmente o
risco de complicações do DM (B, 1);
prevenção de ulcerações nos pés e de amputações de membros inferiores através de cuidados específicos que podem reduzir tanto a freqüência e a duração de hospitalizações como,
em 50%, a incidência de amputações (B, 2);Diretrizes sbD 2006
10
2006 Diretrizes sbD
11
rEFErÊnCias
BiBLioGráFiCas
1. Wild S, Roglic G, Green A, Sicree R, King H. Global
prevalence of diabetes. Estimates for the year
2000 and projections for 2030. Diabetes Care.
2004; 27(5): 1047-53.
2. Malerbi D, Franco LJ; the Brazilian Cooperative
Group on the Study of Diabetes Prevalence.
Multicenter Study of the Prevalence of
Diabetes Mellitus and Impaired Glucose
Tolerance in the urban Brazilian population
aged 30-69 years. Diabetes Care. 15(11):
1509-16, 1992.
3. Torquato MTCG, Montenegro Jr RN, Viana LAL,
Souza RAHG, Ianna CMM, Lucas JCB, et al.
Prevalence of diabetes mellitus and impaired
glucose tolerance in the urban population
aged 30-69 years in Ribeirão Preto (São Paulo),
Brazil. Sao Paulo Med J. 2003; 121(6): 224-30.
4. Gimeno SGA, Ferreira SRG, Cardoso MA, Franco
LJ, Iunes M; the Japanese-Brazilian Diabetes
Study Group. Weight gain in adulthood and
risk of developing glucose disturbance – a
study of a Japanese-Brazilian population. J
Epidemiol. 2000; 10(2 ): 103-10.
5. Onkamo P, Väänänen S, Karvonen M, Tuomilehto
J. Worldwide increase in incidence of type 1
diabetes: the analysis of the data on published
incidence trends. Diabetologia. 1999; 42(12):
1395-403.
6. Franco LJ. Um problema de saúde pública.
Epidemiologia. In: Oliveira JEP, Milech A,
editors. Diabetes mellitus: clínica, diagnóstico,
tratamento multidisciplinar. São Paulo: Editora
Atheneu; 2004. cap. 4, p. 19-32.
7. Schramm JMA, Oliveira AF, Leite IC, Valente
JG, Gadelha AMJ, Portela MC, Campos MR.
Transição epidemiológica e o estudo de carga
de doença no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva.
2004; 9(4): 897-908.
8. Barceló A, Aedo C, Rajpathak S, Robles S. The cost
of diabetes in Latin America and the Caribean.
Bull World Health Organ 2003; 81(1): 19-27.
9. Diabetes Prevention Program Research Group.
Reduction of the incidence of type 2 diabetes
with life style intervention or metformin. N
Engl J Med. 2002; 346(6): 393-403.
10. Tuomilehto J, Lindstrom J, Eriksson JG,
Valle TT, Hamalainen H, Hanne-Parikka P,
Keinanen-Kiukaanniemi S; for the Finnish
Diabetes Prevention Program. Prevention of
type 2 diabetes mellitus by changes in life
style among subjects with impaired glucose
tolerance. N Engl J Med. 2001; 344(18):
1343-50.
11. Hu EB, Manson JE, Stamper MJ, Colditz G, Liu
S, Solomon CG, Willett WC. Diet, lifestyle, and
the risk of type 2 diabetes mellitus in women.
N Engl J Med. 2001; 345(11): 790-7.
12. The Diabetes Control and Complications
Trial Research Group. The effect of intensive
treatment of diabetes on the development
and progression of long-term complications
in insulin-dependent diabetes mellitus. N
Engl J Med. 1993; 329(14): 977-86.
13. UK Prospective Diabetes Study (UKPDS)
Group. Intensive blood glucose control
with sulphonylureas or insulin compared
with conventional treatment and risk of
complications in patients with type 2 diabetes.
Lancet. 1998; 352(9131): 837-53.
14. World Health Organization. Diabetes: the cost
of diabetes. WHO fact sheet. September 2002.
n. 236.
15. World Health Organization. The World Health
Organization Report 2002: Reducing Risks,
Promoting Healthy Life. Geneve,WHO, 2002.
FONTE:http://www.diabetes.org.br/educacao/docs/diretrizes.pdf